Nota de pesar

pelo falecimento do Prof. Rubens Rodrigues Torres Filho

Com imensa tristeza comunicamos o falecimento, aos 81 anos, de Rubens Rodrigues Torres Filho. Muito se poderia dizer, nada seria suficiente. Professor de filosofia da USP, não ensinava filosofia, mostrava como filosofar, notou já quem dele foi próximo. Estudioso de Fichte e do idealismo alemão, nunca pretendia apresentar a palavra definitiva que resolveria de uma vez por todas a mais recente querela interpretativa, pretensão hoje muito recorrente. Com espírito inquieto, interrogava discretamente um texto, unindo a letra ao espírito, o pensado ao impensado, abrindo perspectivas inusitadas. O brilhante ensaísmo de Rubens não é, por isso, atividade paralela ou fruto do acaso. Formador de gerações, não pelo dogma, mas pela liberdade da reflexão que reconhecia no interlocutor; sua ironia aguda e refinada não deixava ninguém cair no sono dogmático. Suas rigorosas traduções de Kant, Fichte, Schelling, Novalis, Nietzsche, Walter Benjamin e Adorno, exemplares até hoje, mantêm em português o vigor dos textos originais, repensados e elucidados pelo próprio traduzir. Poeta recebedor do prêmio Governador do Estado de São Paulo e do Prêmio Jabuti, Rubens jamais fez uso de credenciais para fazer valer sua poesia. Seus poemas têm voo próprio. Talvez pela amplitude de seu pensar e fazer, não se arrogava, como também tem ocorrido hoje com frequência, o título de filósofo: dizia apenas "mexer com filosofia”, como também já escreveu um colega e amigo. Modéstia suscitada, sem dúvida, por uma visão profunda e ampla do filosofar. Para nós, no entanto, declaração desnecessária. A reflexão a um só tempo circunflexa e aberta, característica da trajetória de Rubens, alça voo por si mesma.

Paulo R. Licht dos Santos.

(Texto endossado pela coordenação do PPGFil/UFSCar)

Nota de pesar do GT Fichte (link externo)

Nota de pesar do GT Schopenhauer (link externo)